A Origem da Tragédia - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 148 / 164

Estremece ante os sofrimentos que hão-de atingir o herói, mas neles preliba um prazer muito maior, muito mais elevado. Ele vê mais e mais profundamente do que jamais, mas desejaria estar cego. De onde deveríamos derivar este desdobrar-se maravilhoso, esta quebra do cume apolínico, se não do milagre dionisíaco que, incitando os impulsos apolínicos no maior grau à aparência, pode, ainda, obrigar esta superabundância da força apolínica a entrar em seu serviço, O mito trágico pode, somente, ser entendido como representação de sabedoria dionisíaca por meios artísticos apolínicos; conduz o mundo do fenômeno aos limites, onde ele se nega a si mesmo, procurando refugiar-se novamente no seio da realidade única e verdadeira; onde então, juntamente com Isolda, parece entoar seu metafísico canto de cisne:

Na abundância ondulante

do deleitoso mar,

com o som tonitroante

da onda a marulhar,

com o sopro letal

da respiração mundial —

afogar — e, submergindo, morrer

inconscientemente — sumo prazer!

Assim representamo-nos, nas experiências do ouvinte verdadeiramente estético, o próprio artista trágico, como ele, semelhante a uma divindade exuberante do individuatio, cria as suas figuras, sentido no qual dificilmente se poderia compreender a sua obra como “imitação da Natureza”, — como depois, porém, seu imenso impulso dionisíaco devora todo este mundo dos fenômenos, para, depois e por sua destruição fazer pressentir uma imensa alegria primitivo-artística no seio do Uno-Primitivo.





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