- Retire, então, o seu dinheiro - disse-lhe o senhor. - Não se ganha duas vezes seguidas neste sistema.
Eugène pegou numa placa que lhe esticava o velho senhor, chegou para si os 3600 francos e, sempre sem nada perceber ao jogo, colocou-os no vermelho. A galeria olha-o com inveja, vendo que ele continua a jogar. A roda gira, volta a ganhar, e o banqueiro lança-lhe mais 3600 francos.
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- Tem 7200 francos seus - disse-lhe ao ouvido o senhor. - Se acredita em mim, irá embora, o vermelho saiu oito vezes. Se é caridoso, reconhecerá este bom conselho aliviando a miséria de um antigo perfeito de Napoleão que se encontra na mais última das necessidades.
Rastignac, zonzo, deixou que o homem de cabelos brancos lhe tirasse 10 luíses e desceu com os 7000 francos, não compreendendo ainda nada ao jogo, mas estupefacto com a sua felicidade.
- Ora essa! Onde me levará agora - disse, mostrando os 7000 francos à senhora de Nucingen quando a porta do carro se fechou.
Delphine apertou-o num abraço louco e beijou-o efusivamente, mas sem paixão.
- Salvou-me! - Lágrimas de alegria caíam abundantemente sobre as faces dela. - Vou contar-lhe tudo, meu amigo. Será meu amigo, não é verdade? Está a ver-me rica, grandiosa, nada me falta ou pareço não precisar de nada! Pois bem, sabei que o senhor de Nucingen não me dá um tostão: paga todas as despesas da casa, os carros, os camarotes, põe à minha disposição para a minha roupa uma soma insuficiente, reduz-me a uma miséria secreta por cálculo. Sou demasiado orgulhosa para lhe implorar. Seria a última das criaturas se comprasse o dinheiro dele pelo preço que ele mo quer vender! Como é que com 700 000 francos me deixei despojar desta forma? Por orgulho, por indignação.