O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 24 / 279

Quando reconheceu a inutilidade das suas meiguices e das despesas de representação, não tardou a adivinhar porquê. Apercebeu-se, então, que o seu pensionista já tinha, segundo uma expressão dela, os seus ares. Enfim, foi-lhe provado que a sua esperança, tão docemente acalentada, assentava numa base quimérica e que não tiraria nada desse homem, seguindo a palavra energética da condessa, que parecia ser conhecedora nesse campo. Foi como é evidente muito mais longe no ódio do que tinha ido na amizade. A sua raiva não era devida ao amor que nutria, mas às esperanças frustradas. Se o coração humano repousa ao subir os degraus do afecto, pára raramente na descida bem pronunciada dos sentimentos de ódio. Mas o senhor Goriot era seu pensionista, a viúva foi portanto obrigada a reprimir as explosões de amor próprio ferido, enterrar os suspiros que lhe causava tal decepção e devorar os desejos de vingança, como um monge repreendido pelo prior. Os pequenos espíritos satisfazem os seus sentimentos, bons ou maus, com pequeneses repetidas. A viúva utilizou a sua malícia de mulher para inventar persecuções caladas à sua vítima. Começou por acabar com os elementos supérfluos introduzidos na pensão.

- Acabaram os pepinos em conserva, as anchovas: são disparates! -disse a Sylvie na manhã em que voltou ao antigo programa.

O senhor Goriot era um homem frugal, em quem a parcimónia necessária às pessoas que constroem a própria fortuna tinha-se tornado um hábito. A sopa, as papas, um prato de legumes, tinham sido, deviam ser sempre o seu jantar preferido. Foi então bastante difícil à senhora Vauquer atormentar o pensionista, a quem não conseguia em nada perturbar os gostos culinários. Desesperada por encontrar um homem inatingível, pôs-se a desconsiderá-lo e, desta forma, dividiu a sua aversão por Goriot com os outros pensionistas, que, por brincadeira, .





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