O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 256 / 279

- Querido Bianchon - disse Eugène.

- Oh! Trata-se de um facto científico - continuou o aluno de Medicina com todo o ardor de um novato.

- Que diabo - disse Eugène -, serei então o único a cuidar deste pobre velhote por afecto.

- Se me tivesses visto esta manhã, não dirias isso - retomou Bianchon sem se ofender com este propósito. - Os médicos que exerceram só vêm a doença, eu ainda vejo o doente, meu querido rapaz.

Foi-se embora, deixando Eugène sozinho com o velhote e na apreensão de uma crise que não tardou a declarar-se

- Ah! É você, meu querido filho - disse o pai Goriot reconhecendo Eugène.

- Está melhor? - perguntou o estudante, pegando-lhe na mão.

- Sim, tinha a 'Cabeça apertada como num invólucro, mas está a ficar melhor. Viu as minhas filhas? Elas virão em breve, irão acorrer logo que me souberem doente, trataram tanto de mim na Rua Jussienne! Meu Deus! Gostaria que o meu quarto estivesse limpo para as receber. Há um jovem que queimou toda a minha lenha miúda.

- Estou a ouvir o Christophe - disse-lhe Eugène -, ele traz lenha que esse jovem lhe envia.

- Bom! Mas como pagar a madeira? Não tenho um tostão, meu filho. Dei tudo, tudo. Estou à mercê da caridade das pessoas. O vestido dela era bonito pelo menos? (Ah! Estou a s'ofrer!) Obrigado, Christophe. Deus irá recompensá-lo, meu rapaz; eu, não tenho mais nada.

- Irei pagar-te bem, a ti e à Sylvie - disse Eugène ao ouvido do rapaz.

- As minhas filhas disseram-lhe que iam vir, não é verdade, Christophe?

Vai lá outra vez, dar-te-ei cem moedas. Diz-lhes que não me sinto bem, que gostaria de as beijar, vê-las mais uma vez antes de morrer. Diz-lhes isso, mas sem as assustar demasiado.

Christophe partiu a um sinal de Rastignac.

- Elas virão - retomou o velhote.





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