- Ah! Meus anjos! - Duas palavras, dois murmúrios acentuados pela alma que partiu com esta frase.
- Pobre homem - disse Sylvie, enternecida por essa exclamação onde se pintou um sentimento supremo que a mais horrível, a mais involuntária das mentiras exaltava uma última vez.
O último suspiro desse pai devia ser um suspiro de alegria. Esse suspiro foi a expressão de toda a sua vida, continuava a enganar-se. O pai Goriot foi piamente colocado sobre a sua tarimba. A partir desse momento, a sua fisionomia guardou a marca dolorosa do combate que se travava entre a vida e a morte numa máquina que já não tinha essa espécie de consciência cerebral de onde resulta o prazer e a dor para o ser humano. Era apenas uma questão de tempo para a destruição.
- Vai ficar assim algumas horas e morrerá sem que nos apercebamos, não emitirá nem um som. O cérebro deve estar completamente invadido.
Nesse momento, ouviu-se na escada um passo de jovem mulher ofegante.
- Chega demasiado tarde - disse Rastignac.
Não era Delphine, mas Thérèse, a criada de quarto dela.
- Senhor Eugène - disse esta -, deu-se uma cena violenta entre o senhor e a senhora, por causa do dinheiro que essa pobre mulher pedia para o pai. Desmaiou, o médico veio, tiveram de a sangrar, ela gritava: «Meu pai está a morrer, quero ver o papá!» Enfim, gritos de cortar a alma.
- Basta, Thérèse. Ela vir agora não serviria para nada, o senhor Goriot já não está em si.