O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 31 / 279

Poiret era uma águia, um gentleman ao pé de Goriot, Poiret falava, argumentava, respondia; na verdade, não dizia nada, falando, argumentando ou respondendo, pois tinha o hábito de repetir por outras palavras o que os outros diziam, mas contribuía para a conversa, era vivo, parecia sensível, enquanto o pai Goriot, ainda dizia o empregado do Museu de História Natural, estava constantemente a leste de Réaumur.

Eugene de Rastignac tinha voltado num estado de espírito que devem ter conhecido os jovens superiores, ou aqueles para quem uma posição difícil comunica imediatamente as qualidades de homem de élite. Durante o seu primeiro ano de estada em Paris, o pouco trabalho que pedem as primeiras cadeiras da Faculdade tinha-o deixado livre para provar as delícias visíveis do Paris material. Um estudante não tem muito tempo se quer conhecer o repertório de cada teatro, estudar as saídas do labirinto parisiense, saber os usos, conhecer a língua e habituar-se aos prazeres particulares da capital, explorar os bons e maus sítios, seguir as aulas que os divertem, inventariar as riquezas dos museus. Um estudante apaixona-se então por ninharias que lhe parecem grandiosidades. Tem o seu grande homem, um professor do Colégio de França, pago para estar à altura do seu auditório. Compõe a gravata e exibe-se para a mulher das primeiras galerias da Ópera Cómica. Nessas iniciações sucessivas, ele tira a máscara, alarga os horizontes da vida e acaba por conceber a sobreposição das camadas humanas que compõe a sociedade. Se começou por admirar os carros no desfile dos Campos Elísios num dia de sol, depressa começa a invejá-los. Eugene tinha passado por esta aprendizagem sem se aperceber, quando foi de férias, após ter recebido o bacharelato em Letras e Direito.





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