O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 59 / 279

Tinha uma expressão fraternal que surpreendeu bastante Eugène. Os jovens da província ignoram o quanto pode ser doce a vida a três.

- O senhor de Restaud - disse a condessa ao estudante, apresentando-lhe o marido.

Eugène inclinou-se profundamente.

- O senhor - disse, continuando e apresentando Eugène ao conde de Restaud - é o senhor de Rastignac, parente da senhora viscondessa de Beauséant pelos Marcillac e que tive o prazer de conhecer no seu último baile.

Parente da senhora viscondessa de Beauséant pelos Mareillac!

Essas palavras, que a condessa pronunciou quase enfaticamente, devido à espécie de orgulho que ressente uma dona de casa quando quer provar que só recebe na sua casa pessoas distintas, tiveram um efeito mágico, o conde deixou de lado o seu ar frio, cerimonioso e cumprimentou o estudante.

- Encantado - disse -, senhor, por o conhecer.

O conde Maxime de Trailles lançou sobre Eugène um olhar preocupado e deixou de repente o seu ar impertinente. Esse toque de varinha mágica, devido à poderosa intervenção de um nome, abriu trinta gavetas no cérebro do meridional e devolveu-lhe todo o espírito que tinha preparado. Uma luz repentina fez-lhe ver mais claro na atmosfera da alta sociedade parisiense, ainda tenebrosa para ele. A Casa Vauquer e o pai Goriot estavam então bem longe do seu pensamento.

- Pensava que os Marcillac já estavam extintos? - disse o conde de Restaud a Eugène,

- Sim, senhor - respondeu este. - O meu tio-avô, o cavaleiro de Rastignac, casou com a herdeira da família de Marcillac. Só teve uma filha, que se casou com o marechal de Clarimbault, avô materno da senhora de Beauséant. Somos a parte da família mais nova, ramo tanto mais pobre quanto o meu tio avô, vice-almirante, perdeu tudo ao serviço do rei.





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