O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 86 / 279

Alguns dias mais tarde, Eugène foi a casa da senhora de Restaud e não foi recebido. Voltou lá três vezes, três vezes encontrou de novo a porta fechada, apesar de se apresentar a horas em que o conde Maxime de Trailles não estaria lá. A viscondessa tivera razão. O estudante não estudou mais. Ia às aulas para responder à chamada e mal assinava a folha de presença, vinha embora. Tinha chegado à conclusão da maior parte dos estudantes. Reservava os estudos para a altura em que teria de fazer os exames; tinha resolvido acumular as inscrições do segundo e do terceiro ano, depois aprender o Direito com seriedade e de uma só vez à última hora. Tinha desta forma 15 dias para navegar no oceano de Paris, para aí se entregar ao tratamento das mulheres, ou pescar a fortuna. Durante essa semana, viu duas vezes a senhora de Beauséant, a casa de quem só ia na altura em que saía o carro do marquês de Ajuda. Durante alguns dias ainda esta ilustre mulher, a mais poética figura do Bairro de São Germano, ficou vitoriosa e suspendeu o casamento da menina de Rochefide com o marquês de Ajuda-Pinto. Mas estes últimos dias, que o receio de perder a sua felicidade tornou os mais ardentes de todos, deveriam precipitar a catástrofe. O marquês de Ajuda, de conluio com os Rochefide, tinha visto esta zanga e este reatar como uma feliz circunstância: esperavam que a senhora de Beauséant se acostumaria à ideia desse casamento e acabaria por sacrificar as suas manhãs a um futuro previsto na vida dos homens. Apesar das mais santas promessas renovadas todos os dias, o senhor de Ajuda desempenhava portanto um papel e a viscondessa gostava de ser enganada. «Em vez de saltar com nobreza pela janela, deixava-se cair pelas escadas abaixo», dizia a duquesa de Langeais, sua melhor amiga.




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