Duas esteiras de palha, assentes numas tábuas, serviam de cama às duas religiosas. No meio do quarto havia uma única mesa, e, sobre um candeeiro de cobre, alguns pratos, três facas e um pão redondo. O lume do fogão era modesto. Alguns pedaços de madeira, juntos a um canto, atestavam, de resto, a pobreza das duas reclusas. As paredes, cobertas de uma camada de tinta muito antiga, demonstravam o mau estado do telhado, onde manchas, parecidas com fios castanhos, denunciavam infiltrações das águas pluviais. Uma relíquia, naturalmente salva do saque da abadia de Chelles, ornamentava a prateleira do fogão. Três cadeiras, duas arcas e uma velha cómoda completavam o mobiliário da dependência. Uma porta, disfarçada ao lado do fogão, dava a entender existir mais um quarto.
O inventário desta cela foi rapidamente feito pelo indivíduo que se introduzira sob terríveis auspícios no seio daquela família. Um sentimento de comiseração se pintava no seu rosto, e relanceou um olhar compadecido às duas mulheres, pelo menos tão embaraçado como elas. O estranho silêncio em que todos três haviam caído durou pouco, pois o estranho acabou por adivinhar a fraqueza moral e a inexperiência daquelas duas pobres criaturas, e disse-lhes então numa voz que procurou suavizar:
- Não estou aqui como inimigo cidadãs.