No mesmo instante ou logo no seguinte, dei-me conta de que Ransome entrara na câmara. Na sua fisionomia havia algo que me fez sobressaltar. A significação disso, porém, era algo que não me sentia capaz de decifrar. Exclamei:
«Morreu alguém?»
Foi a vez de se mostrar ele sobressaltado.
«Se alguém morreu? Ninguém, que eu saiba, senhor comandante. Há uns dez minutos estive no castelo da proa, e nessa altura não havia por lá ninguém que tivesse morrido.»
«Você acaba de me meter um susto», disse-lhe eu.
A sua voz era extremamente agradável de se ouvir. Explicou-me que viera cá abaixo para fechar a vigia do camarote do senhor Burns, não fosse chover. Ignorava que eu estivesse na câmara, acrescentou.
«Qual é o aspecto das coisas lá fora?», perguntei.
«A verdade é que o tempo está muito escuro, senhor comandante. Aquilo traz coisa dentro, de certeza.» «Em que direcção vem?»
«É a toda a volta, senhor comandante.»
Eu repeti, como um tonto: «A toda a volta. Com certeza», com os cotovelos apoiados em cima da mesa.
Ransome ia-se demorando na câmara, como se lá tivesse ainda alguma coisa a fazer, mas hesitasse quanto a ela. Eu disse-lhe de súbito:
«Acha que sou preciso no tombadilho?»
Ele respondeu imediatamente, mas sem acentuar especialmente nada no seu tom de voz: «Sim, senhor comandante».