Tufão - Cap. 6: VI Pág. 102 / 103

Faziam uma grande algazarra entre eles, mas quando o capitão mostrou a sua cabeça calva na ponte calaram-se todos e ergueram os olhos para ele.

Parece que depois de ter ponderado qual o procedimento mais correcto decidira mandar o amanuense da Bun Hin lá a baixo explicar-lhes a única maneira que tinham de reaver o dinheiro. O capitão explicou-me depois que, tendo todos os coolies trabalhado no mesmo lugar e durante o mesmo• período de tempo, ele achava que estava a proceder com eles da maneira mais justa possível distribuindo igualmente por todos o dinheiro que havíamos recolhido. Os dólares não traziam a marca do dono, disse ele, e se fôssemos perguntar a cada homem quanto tinha trazido para bordo receava que o tipo mentisse e no fim o dinheiro não chegasse para todos. Acho que ele aí tinha razão. E quanto a entregar os dólares a qualquer funcionário chinês que se conseguisse desencantar em Fu-Chau, equivalia a ficar ele próprio com O dinheiro para si, pois eles nunca mais o veriam. Creio que os chineses também pensavam assim.

Acabámos a distribuição antes de anoitecer. Era coisa digna de ver-se: o mar agitado, o navio todo escavacado, os chineses subindo a cambalear à ponte, um de cada vez, para receber o seu quinhão, e o capitão ainda de botas e mangas de camisa, à porta da casa de navegação, pagando-lhes e suando em bica e de vez em quando repreendendo-me ou ao tio Rout por qualquer coisa que não lhe agradava perfeitamente. Foi ele próprio levar à escotilha nº 2 o quinhão daqueles que não podiam andar. Sobraram três dólares que foram distribuídos pelos três coolies mais maltratados, um para cada um. Depois fomos buscar. e largámos sobre o tombadilho pilhas de trapos molhados, todo o género de fragmentos de coisas informes e impossíveis de identificar, e deixámos que eles próprios resolvessem a quem pertenciam.





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