— Irmão — respondeu-lhe o cozinheiro — neste dia, graças ao opulento Camacho, não tem a fome jurisdição; apeai-vos, vede se há por aí uma concha, escumai uma ou duas galinhas, e que vos faça muito bom proveito.
— Não vejo nenhuma — respondeu Sancho.
— Esperai! — tornou o cozinheiro — mal pecado! que melindroso e acanhado que vós sois!
E, dizendo isto, agarrou numa caçarola e, metendo-a numa das tinas, tirou para fora três galinhas e dois patos, e disse para Sancho:
— Aqui tendes, amigo, e almoçai, enquanto não chega hora de jantar.
— Não tenho onde a despejar — respondeu Sancho.
— Pois levai a caçarola — tornou o cozinheiro — que a riqueza e satisfação de Camacho a tudo suprem.
Enquanto se passava isto com Sancho, estava D. Quixote vendo entrar pela ramada doze lavradores, montados em doze formosíssimas éguas, com ricos e formosos jaezes campestres e muitos guizos nos peitorais, e todos vestidos de gala e de festa, que em concertado tropel deram muitas carreiras pelo prado, com alegre algazarra e gritaria, dizendo:
— Vivam Camacho e Quitéria, ele tão rico como ela é formosa, e ela a mais formosa do mundo.
Ouvindo isto, disse D. Quixote consigo:
— Bem se mostra que estes não viram Dulcineia del Toboso, que, se a tivessem visto, teriam mais tento nos louvores desta sua Quitéria.
Dali a pouco principiaram a entrar, por várias partes da ramada,