— Lá para andar sereno e manso, o meu ruço! — disse Sancho — apesar de não andar pelos ares, mas na terra desafia todos os ginetes do mundo.
Riram-se os circunstantes, e a Dolorida prosseguiu:
— E este cavalo, se Malambruno efetivamente quer dar fim à nossa desgraça, antes que passe meia hora depois de cair a noite, estará na vossa presença, porque ele me disse que o sinal que me daria para eu perceber que encontrara o cavaleiro que procurava seria mandar-me o cavalo que transportasse o meu defensor com presteza e comodidade.
— E quantos cabem nas costas desse cavalo? — perguntou Sancho.
— Duas pessoas — respondeu a Dolorida — uma na sela, outra nas ancas. E a maior parte das vezes, estas duas pessoas são um cavaleiro e um escudeiro, a não haver alguma donzela raptada.
— Como se chama o cavalo, senhora Dolorida?
— Não é como o cavalo de Belerofonte, que se chamava Pégaso; nem como o de Alexandre Magno, chamado Bucéfalo; nem como o do Orlando furioso, que tinha por nome Briladoro; nem Baiardo, que foi o de Reinaldo de Montalvão; nem Frontino, como o de Rogero; nem Bootes, nem Piritoo, como dizem que se chamam os do Sol; nem tão pouco se chama Orélia, como o cavalo com que o desditoso Rodrigo, último rei dos godos, entrou na batalha em que perdeu a vida e o reino.