Foi esta a extraordinária narrativa que ouvi naquele fim de tarde de Abril - uma narrativa que para mim seria absolutamente inacreditável se não fosse confirmada pela presença da figura alta e magra, do rosto inteligente e arguto que nunca esperei voltar a ver. Ele soubera, de alguma forma, da minha triste perda e as suas condolências foram-me transmitidas mais pela sua atitude que por palavras. «O trabalho é o melhor antídoto para a dor, meu caro Watson,» disse, «e tenho para ambos, esta noite, uma tarefa que, se a conseguirmos levar a cabo com êxito, justificará por si só a vida de um homem neste planeta.» Em vão lhe pedi para me contar mais. «Saberá e verá o suficiente durante a noite», respondeu. «Temos três anos do passado a discutir. Que isso nos baste até às nove e meia, hora a que iniciaremos a extraordinária aventura da casa vazia.»
Foi, de facto, como nos velhos tempos, quando, àquela hora, me vi sentado numa carruagem ao seu lado, como meu revólver na algibeira e a excitação da aventura no coração. Holmes mostrava-se frio, severo e silencioso. Quando a luz dos candeeiros iluminou as suas feições austeras, vi que tinha a testa franzida, denunciando reflexão, e os seus lábios finos comprimidos. Não sabia que animal selvagem é que nos preparávamos para caçar na escura selva criminosa de Londres, mas tinha absoluta certeza, pelo modo daquele exímio caçador, que a aventura era extremamente grave - enquanto o sorriso sarcástico, que ocasionalmente quebrava a sua ascética e sombria expressão, nada de bom augurava em relação ao objecto da nossa missão.