Lady Brackenstall não era uma pessoa vulgar. Raras vezes encontrei uma figura tão graciosa, uma presença tão feminina e tão belo rosto. Era loura, de cabelos dourados, olhos azuis e teria sem dúvida uma compleição perfeita que acompanha estas características físicas se a recente tragédia não a tivesse deixado desfigurada e perturbada. O seu sofrimento era físico além de mental, pois um dos seus olhos estava terrivelmente inchado e negro e a criada, uma mulher alta e austera, banhava-o com vinagre e água. A senhora estava deitada, exausta, num sofá, mas o seu olhar rápido e atento quando entrámos na sala, e a expressão viva no seu belo rosto, indicaram que nem as suas faculdades mentais nem a sua coragem tinham sido afectadas pela terrível provação por que passara. Vestia um robe largo, azul e prateado, mas um vestido de noite preto com lantejoulas estava no sofá junto dela.
- Já lhe disse tudo quanto se passou, Sr. Hopkins - disse ela num tom cansado. - Importa-se de o repetir por mim? Bom, se realmente acha necessário, contarei a estes senhores o que aconteceu. Eles já foram à sala de jantar?
- Pensei que era melhor ouvirem primeiro o relato de vossa Senhoria.
- Ficar-lhe-ei muito grata se tratar rapidamente de tudo. É horrível pensar que ele ainda lá está caído. - Estremeceu e escondeu o rosto nas mãos. Ao fazê-lo, o robe descaiu e deixou à mostra os braços. Holmes deu uma exclamação.
- Minha senhora, a senhora tem outros ferimentos. Que é isto? Duas manchas vermelho-vivo destacavam-se nos seus braços brancos e roliços. Ela cobriu-os apressadamente.
- Não é nada. Não tem qualquer relação com o terrível acontecimento desta noite.