Em consequência de tal guerra, os povos mais ricos e florescentes foram violentamente abatidos e muitos deles vencidos duramente, só terminando estes males quando os Alaopolitas finalmente se submeteram aos Nefelogetas e se sujeitaram à servidão.
Os Utopianos, porém, não fizeram esta guerra por interesse próprio, e contudo os Nefelogetas, antes da guerra, em nada se comparavam ao Estado próspero dos Alaopolitas. É com este vigor que os Utopianos vingam as injúrias feitas aos seus amigos, mesmo em assuntos de dinheiro; no entanto não procedem assim nas suas próprias questões.
Se os Utopianos forem despojados dos seus bens, por fraude ou astúcia, desde que não tenha sido exercida violência sobre as pessoas dos seus cidadãos, refreiam a sua cólera, interrompendo as relações com essa nação, até que sejam apresentadas satisfações. Não que se importem menos com os seus cidadãos que com os seus amigos, mas porque consideram mais grave o prejuízo sofrido pelos amigos do que o seu próprio prejuízo. Pois os mercadores aliados, seja qual for a perda sofrida, são bastante prejudicados nos seus próprios bens, enquanto os Utopianos nada perdem da sua fortuna pessoal, que não possuem, apenas arriscando uma parte da riqueza comum e do que na pátria existe em abundância e mesmo supérfluo, caso contrário não teria sido enviado para o estrangeiro. Assim, nenhum utopiano é afectado pela perda. Por isso, pensam que seria demasiado cruel vingar, com a morte de muitos, uma perda que ninguém sentiu e que não veio prejudicar a vida ou o bem-estar de fosse quem fosse.