é um laço muito forte. Pensam também que os homens estarão unidos uns aos outros de modo mais seguro e justo pelo amor e pela caridade do que pelos parágrafos de um tratado, por amizade fraterna do espírito do que por meras palavras.
Da guerra
Os Utopianos detestam e abominam a guerra como coisa brutal e selvagem, que contudo espécie alguma de animais ferozes pratica tão frequentemente como o homem. Contrariamente ao costume de quase todas as nações, nada consideram mais vergonhoso que a glória conseguida na guerra. E por isso, embora em dias determinados se exercitem na ciência militar, não só os homens, como as mulheres, a fim de estarem preparados para a defesa em caso de necessidade, não fazem nunca a guerra, excepto para defender o seu próprio país ou para libertar os aliados dos inimigos que os invadiram ou para os salvarem do jugo e servidão que os oprime, fazendo-o por mera piedade e compaixão.
Assim, vão em auxílio dos seus amigos, não só para os defender, como para os vingar das injustiças cometidas contra eles.
Só o fazem, porém, depois de o Senado ser consultado, enquanto o assunto está pendente. Se acham a causa justa, e se a parte contrária não quer reparar o erro, como a justiça exige, consideram-na único autor e responsável da guerra. Fazem-no, porém, todas as vezes que se dão pilhagens ou incursões, e com cólera mais terrível quando os mercadores de povos amigos sofrem acusações injustas, no estrangeiro, em nome da justiça, por causa de leis injustas ou de uma interpretação perversa de leis justas.
Tal foi a razão da guerra que os Utopianos travaram, pouco antes da nossa geração, com os Alaopolitas, a favor dos Nefelogetas,
