Alma - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 8 / 51

Das dúvidas de Locke sobre a alma

O autor do artigo Alma, da Enciclopédia, se guiou escrupulosamente pelas opiniões de Jaquelet. Porém Jaquelet não nos ensina nada. Ataca a Locke, porque este modestamente disse: «Quiçá não seremos nunca capazes de conhecer se um ser material pensa ou não, pela razão de que nos é impossível descobrir por meio da contemplação de nossas próprias ideias, se Deus teria concedido a qualquer porção de matéria o poder de conhecer-se e de pensar; ou se uniu a matéria desse modo preparada uma substância imaterial que pensa. Com relação a nossas noções, não nos é difícil conceber que Deus pode, se assim lhe compraz, acrescentar à ideia que temos da matéria, a faculdade de pensar; nem nos é difícil compreender que possa agregar-lhe outra substância que possua tal faculdade; porque ignoramos em que consiste o pensamento, e não sabemos tampouco a classe de substância a que o Ser Todo-Poderoso possa conceder esse poder, e que pode criar em virtude da vontade do Criador. Não encontro contradição em que Deus, ser pensante, eterno e todo-poderoso, dote se quiser, de alguns graus de sentimento, de perfeição e de pensamento, a certas porções de matéria criada e insensível, e que nos una a ela quando crer conveniente».

Como acabamos de ver, Locke fala como homem profundo, religioso e modesto. Pode se dizer que Locke criou a metafísica (assim como Newton criou a física) para conhecer a alma, suas ideias e suas afeções.





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