Seja eu embora o primeiro a dar esse nobre exemplo, que talvez será imitado. Sirva ele ao menos de um protesto enérgico e solene contra uma bárbara e vergonhosa instituição.
- És rico, Álvaro, e a riqueza te dá bastante independência para poderes satisfazer os teus sonhos filantrópicos e os caprichos de tua imaginação romanesca. Mas tua riqueza, por maior que seja, nunca poderia reformar os prejuízos do mundo, nem fazer com que essa escrava, a quem segundo todas as aparências quererias ligar o teu destino, fosse considerada, e nem mesmo admitida nos círculos da alta sociedade...
- E que me importam os círculos da alta sociedade, uma vez que sejamos bem acolhidos no meio das pessoas de bom senso, e coração bem formado? Demais, enganas-te completamente, meu Geraldo. O mundo corteja sempre o dinheiro, onde quer que ele se ache. O ouro tem um brilho que deslumbra, e apaga completamente essas pretendidas nódoas de nascimento. Não nos faltarão, nunca, eu te afianço, o respeito, nem a consideração social, enquanto nos não faltar o dinheiro.
- Mas, Álvaro, esqueces-te de uma coisa muito essencial; e se te não for possível obter a liberdade de tua protegida?...
A esta pergunta Álvaro empalideceu, e oprimido pela ideia de tão cruel como possível alternativa, sem responder palavra olhava tristemente para o horizonte, quando o boleeiro de Álvaro, que se achava postado com sua caleça junto à porta do jardim, veio anunciar-lhe que algumas pessoas o procuravam e desejavam falar-lhe, ou ao dono da casa.