Acerca de Simão Botelho, nunca diante de sua filha Tadeu de Albuquerque proferiu palavra, nem antes nem depois do disparate do corregedor. O que ele fez foi chamar a Viseu o sobrinho de Castro Daire, e preveni-lo do seu desígnio, para que ele, em face de Teresa, procedesse como convinha a um enamorado de feição, e mutuamente se apaixonassem e prometessem auspicioso futuro ao casamento.
Por parte de Baltasar Coutinho a paixão inflamou-se tão depressa, quanto o coração de Teresa congelou de terror e repugnância. O morgado de Castro Daire, atribuindo a frieza de sua prima a modéstia, inocência e acanhamento, lisonjeou-se do virginal melindre daquela alma, e saboreou de antemão o prazer de uma lenta, mas segura conquista. Verdade é que Baltasar nunca se explicara de modo que Teresa lhe desse resposta decisiva; um dia, porém, instigado por seu tio, afoitou-se o ditoso noivo a falar assim à melancólica menina:
– É tempo de lhe abrir o meu coração, prima. Está bem-disposta a ouvir-me?
– Eu estou sempre bem-disposta a ouvi-lo, primo Baltasar.
O desdém aborrecido desta resposta abalou algum tempo as convicções do fidalgo, respeito à inocência, modéstia e acanhamento de sua prima.