Anunciara-se Tadeu de Albuquerque na portaria de Monchique, ao dia seguinte dos anteriores sucessos. Sua prima, primeira senhora que lhe saiu ao locutório, vinha enxugando as lágrimas de alegria.
– Não cuide que eu choro de aflita, meu primo – disse ela. – O nosso anjo, se Deus quiser, pode salvar-se. Logo de manhã a vi passear por seu pé nos dormitórios. Que diferença de semblante ela tem hoje! Isto, meu primo, é milagre das duas santas que temos inteiras na clausura, e com as quais algumas perfeitas criaturas desta casa se apegaram. Se as melhoras continuarem assim, temos Teresa; o Céu consente que esteja entre nós aquele anjo mais alguns anos…
– Muito folgo com o que me diz, minha boa prima – atalhou o fidalgo. – A minha resolução é levá-la já para Viseu, e lá se restabelecerá com os ares pátrios, que são muito mais sadios que os do Porto.
– É ainda cedo para tão longa e custosa jornada, meu primo. Não vá o senhor cuidar que ela está capaz de se meter a caminho. Lembre-se que ainda ontem pensámos em encontrá-la hoje morta. Deixe-a estar mais alguns meses; e depois não digo que a não leve; mas, por enquanto, não consinto semelhante imprudência.
– Maior imprudência – replicou o velho – é conservá-la no Porto, onde, a estas horas, deve estar o malvado matador de meu sobrinho. Talvez não saiba a prima?… Pois é verdade; o patife do corregedor saiu a campo em defesa dele, e conseguiu que o tribunal da Relação lhe aceitasse a apelação da sentença, passado o prazo da lei; e, não contente com isto, fez que o filho fosse removido para as cadeias do Porto. Eu agora trabalho para que a sentença seja confirmada, e espero consegui-lo; mas, enquanto o assassino aqui estiver, não quero que a minha filha esteja no Porto.
– O primo é pai, e eu sou apenas uma parenta – disse a abadessa –; cumpra-se a sua vontade. Quer ver a menina, não é assim?
– Quero, se é possível.
– Pois bem, enquanto eu vou chamá-la, queira entrar na primeira grade à sua mão direita, que Teresa lá vai ter.