A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 129 / 359

Descrevi-lhe, em seguida, a minha situação, nos termos mais comove- dores de que fui capaz, dizendo-lhe esperar que as infelizes circunstâncias, que, ao princípio, lhe tinham inspirado uma generosa e sincera amizade por mim o incitassem, agora, a um pouco de compreensão, embora a par- te pecaminosa das nossas relações, que, acreditava, não estivera, nos primeiros tempos, nos intuitos de nenhum de nós, tivesse cessado. Desejava arrepender-me tão sinceramente como ele, mas suplicava-lhe que me deixasse em circunstâncias que me permitissem resistir às tentações que o Demónio nunca deixa de pôr no caminho daqueles que encaram a terrível perspectiva da pobreza e do desespero. Se acalentasse, porventura, a mais pequena apreensão de que eu pudesse vir a causar-lhe dissabores, rogava-lhe que me proporcionasse o regresso à Virgínia, para junto da minha mãe, de onde sabia que eu viera, o que poria fim a todos os seus receios nesse sentido. Concluía dizendo que, se me mandasse mais cinquenta libras, para facilitar a minha partida, lhe enviaria uma quitação geral e promete- ria não mais o importunar, a não ser para ter notícias do bem-estar do nosso filho, o qual, se encontrasse a minha mãe viva e as minhas condições de vida o consentissem, chamaria para junto de mim, libertando-o também dessa responsabilidade.

Claro que tudo isto não passava de uma artimanha, pois não tinha a mínima intenção de ir para a Virgínia, como facilmente se compreende pelo relato dos motivos que de lá me tinham forçado a sair. Interessava- -me apenas obter dele as últimas cinquenta libras, sabendo perfeitamente que não lhe apanharia nem mais uma moeda.

Os meus argumentos e, sobretudo, a promessa de lhe mandar uma quitação geral e nunca mais o incomodar operaram o efeito desejado, e mandou-me o dinheiro por uma pessoa que trazia, também, o documento de quitação, para eu assinar.





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