A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 147 / 359

Devo confessar que parti com um desígnio vil, mas a intenção do convite que me fizeram era-o ainda mais, como o seguimento demonstrará. Parti, pois, com a minha amiga, como lhe chamava, para o Lancashire. Deu-me, durante toda a viagem, mostras da mais sincera e funda amizade, pagou-me todas as despesas, excepto do transporte, e o irmão mandou uma carruagem nobre esperar-nos a Warrington, de onde seguimos para Liverpool com tanta cerimónia quanta eu pudera desejar. Aí passámos três ou quatro dias em casa de um mercador, que nos tratou muito bem e cujo nome omito, por via do que a seguir se passou. Depois a minha amiga disse-me que me levaria a casa de um tio, que igualmente nos trataria com muita fidalguia, e esse tio, como ela lhe chamava, mandou-nos buscar por uma carruagem de quatro cavalos, na qual percorremos cerca de quarenta milhas, não sei em que direcção.

Chegámos, de facto, a uma mansão senhorial, com um grande parque, na qual vivia uma família numerosa, de companhia muito agradável, e onde a tratavam por prima. Disse-lhe que, se tencionava trazer-me para tal ambiente, me devia ter avisado, a fim de que me preparasse e adquirisse melhores roupas, e as senhoras da casa, apercebendo-se do meu em- baraço, disseram-me delicadamente que, na sua terra, não avaliavam tanto as pessoas pelo que vestiam como em Londres; a prima informara-as devidamente da minha condição e, portanto, não precisava de roupas para me impor. Em resumo, trataram-me não como o que eu era, mas como o que pensavam que fosse, uma dama viúva de grande fortuna.

A minha primeira descoberta foi que as pessoas da família eram todas católicas romanas, incluindo a prima a quem eu chamava amiga. Devo dizer, no entanto, que ninguém no mundo poderia comportar-se melhor comigo e que me trataram com tanta delicadeza como se professasse o seu credo.





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