Em resumo, levei tão longe os meus argumentos que o convenci de que a proposta não fazia sentido. Apresentou-me então outra: assinaria e autenticaria um contrato comprometendo-me a desposá-lo assim que ele obtivesse o divórcio, contrato que seria nulo no caso de não conseguir divorciar-se.
Redargui-lhe que achava esta proposta mais sensata que a anterior, mas, como era a primeira vez que o imaginava suficientemente vulnerável e sincero, achei por bem não dizer ainda «sim». Pensaria no caso, prometi.
Brinquei com este apaixonado como um pescador com uma truta e, julgando-o bem preso ao anzol, zombei da nova proposta e respondi-lhe com evasivas. Disse-lhe que pouco sabia a meu respeito, aconselhei-o a informar-se e consenti que me acompanhasse a casa, mas não permiti que entrasse por, como pretextei, não ser decente.
Em resumo, dei-me ao luxo de não assinar um contrato de casamento, e não o fiz porque a mulher que me convidara com tanta insistência a acompanhá-la ao Lancashire me prometia tais mundos e fundos que me sentia francamente tentada a experimentar. «Talvez lucre muito com isso», disse para comigo, e não tive escrúpulos em rejeitar o meu honesto cidadão, pelo qual não estava tão apaixonada que não fosse capaz de o trocar por outro mais rico.
Numa palavra, esquivei-me a assinar o contrato, mas disse-lhe que par- tia para o Norte e lhe comunicaria para onde poderia escrever-me acerca dos assuntos que deixava ao seu cuidado; que lhe daria prova suficiente do respeito que me inspirava confiando às suas mãos quase tudo quanto tinha no mundo; e que lhe dava ainda a minha palavra de que, tão logo intentasse uma acção de divórcio contra a mulher e mo comunicasse, viria a Londres para discutirmos seriamente o assunto.
