A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 149 / 359

Quanto a mim, em virtude de ser considerada uma grande fortuna, não seria decente perguntar-me quanto valiam os meus bens, e a minha falsa amiga, dando ouvidos a boatos idiotas, elevou-os de quinhentas para cinco mil libras e, quando chegou à aldeia, achou conveniente aumentá-los ainda para quinze mil libras. O irlandês (diziam-me ser essa a sua nacionalidade) ficou doido varrido com semelhante engodo e, numa palavra, cortejou-me, ofereceu-me presentes e endividou-se como um tolo com as despesas da equipagem e do namoro. Tinha, a verdade seja dita, o aspecto de um cavalheiro fino e elegante; era alto, bem proporcionado, possuidor de um trato extraordinário e falava do seu parque, dos seus estábulos, dos seus cavalos, dos seus couteiros, dos seus bosques, dos seus rendeiros e dos seus servos com tanta naturalidade como se houvéssemos estado ambos na sua mansão e eu tivesse visto tudo isso.

Nunca aludiu sequer à minha fortuna ou bens, mas prometeu-me que, ao chegarmos a Dublim, me daria de arras uma boa terra que valia seiscentas libras por ano e acrescentou que podíamos, até, firmar já um contrato a esse respeito.

Como nunca ouvira linguagem semelhante, fiquei desnorteada de to- do, tanto mais que acalentava ao peito uma serpente que não se cansava de me encher os ouvidos com as grandezas da vida do irmão. Umas vezes vinha pedir as minhas ordens, perguntando-me como desejava as carruagens pintadas e forradas, outras indagava como vestiria o escudeiro, e com tudo isso eu andava verdadeiramente estonteada. Perdera a capacidade de dizer «não» e, para não me alongar em minúcias, consenti em casar. Mas, para que a intimidade fosse maior, embrenhámo-nos mais no interior e fomos unidos por um padre católico romano, o qual, garantiram-me, nos casaria tão eficazmente como um pastor da igreja anglicana.





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