Confesso que tive alguns rebates de consciência por renegar indigna- mente o meu leal cidadão, que tinha por mim amor tão sincero e tentava libertar-se de uma prostitua escandalosa, que tão mal o tratara, na esperança de gozar infinita felicidade com a sua nova escolhida - a qual se entregava a outro de uma maneira que, em infâmia, quase igualava a da adúltera.
Mas o brilho tentador de uma grande propriedade e de belas coisas, que a criatura enganada e que me enganava apresentava constantemente à minha imaginação, espicaçou-me e não me deu tempo para pensar em Londres, e muito menos na obrigação que contraíra para com uma pessoa infinitamente mais meritória.
Mas o mal estava feito; encontrava-me agora nos braços do meu novo esposo, que continuava a parecer o mesmo de sempre. De facto, nada me- nos de mil libras por ano permitiria viver com tal magnificência e manter tal equipagem.
Um mês depois do nosso casamento começou a falar da minha ida para West Chester, a fim de embarcar para a Irlanda. Não me apressou, contudo, pois demorámo-nos mais três semanas, e então mandou recado para Chester, a fim de que uma carruagem nos esperasse em Black Rock, como lhe chamam, defronte de Liverpool. Embarcámos num belo barco a que chamam pinaça, de seis remos, e os criados, cavalos e bagagem seguiram num ferry-boat. Meu marido desculpou-se de não ter nenhuns conhecimentos em Chester, mas prometeu ir à frente e arranjar instalações decentes para mim numa casa particular. Perguntei-lhe quanto tempo OS demoraríamos em Chester e, como me respondesse que não seria mais de uma ou duas noites, pois trataria de alugar depressa uma carruagem para nos levar a Holyhead, disse-lhe que não se incomodasse a arranjar- -me aposentos numa casa particular por tão pouco tempo; Chester era grande e haveria, com certeza, boas estalagens e acomodações suficientes.
