A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 18 / 359

Continuei com essa família até aos meus 17 ou 18 anos e beneficiei de todas as vantagens possíveis de imaginar no capítulo da minha educação. A senhora tinha mestres que iam a casa ensinar as suas filhas a dançar, a falar francês e a escrever, e outros ensinavam-lhes música, e, como me encontrava sempre com elas, aprendi também. É certo que os professores não tinham por encargo ensinar-me, mas eu aprendia por imitação e curiosidade tudo quanto elas aprendiam por ensino e disciplina. Em resumo, aprendi a dançar e a falar francês tão bem como qualquer das meninas e a cantar muito melhor, pois possuía melhor voz que elas. Já não aprendi com tanta facilidade a tocar cravo ou espineta, e elas próprias me ensinaram a tocá-los. Quanto à dança, pode dizer-se que lhes foi impossível evitar que eu aprendesse a dançar quadrilhas, pois precisavam sempre de mim para acertar o número de pares. Além disso, tinham tanta vontade de me ensinar tudo quanto elas próprias aprendiam como eu de aprender.

Desta maneira, tive, como atrás afirmei, tantas vantagens de educação como se fosse tão fidalga como elas, e em certas coisas levava, até, a palma às minhas meninas, embora elas fossem de condição superior à minha; eram dons naturais que eu possuía e que nem toda a sua fortuna lhes permitia adquirir. Primeiro, era, aparentemente, mais bonita que elas; segundo, era mais bem feita; e, terceiro, cantava melhor que elas, isto é, tinha melhor voz. Deixai-me esclarecer, porém, que, ao dizer isto, não dou voz à minha presunção pessoal, mas sim à opinião de quantos conheciam a família.

Tinha, por tudo isto, a vaidade vulgar do meu sexo, ou seja sabia perfeitamente que me consideravam muito bonita ou, se mo permitis, uma grande beldade, e nutria a meu respeito tão boa opinião como quem me gabava.





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