A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 183 / 359

- Pode ser verdade, mãe, mas as minhas dúvidas são muito profundas.

- Ouçamos algumas então.

- Primeiro dá uma quantia em dinheiro a essas pessoas para libertarem os pais da presença da criança e tomarem conta dela enquanto viver - comecei. - Ora nós sabemos, mãe, que essas pessoas são pobres e que o seu ganho consiste em livrarem-se por sua vez da responsabilidade o mais depressa que puderem. Como hei-de pensar que, se a melhor maneira de se livrarem dessa responsabilidade for a morte da criança, se mostrarão solícitas pela sua vida?

-Tudo isso são fantasias e imaginação - afirmou a velha. - Digo-lhe que o crédito dessas pessoas depende precisamente da vida das crianças, com as quais são tão cuidadosas como as próprias mães.

- Oh, mãe, se tivesse a certeza de que o meu pequenino seria tratado com carinho e justiça, não sofreria como sofro! Mas jamais me convenceria sem ver com os meus olhos, e vê-lo seria a minha ruína e a minha desgraça, na situação em que ora me encontro. Por isso não sei que fazer.

- Mas que confusão! - exclamou a governanta. - Queria ver a criança e não a ver, esconder a verdade e não a esconder. Isso são impossíveis minha filha; portanto, deve fazer o mesmo que outras mães conscienciosas fizeram antes de si e contentar-se com as coisas como elas devem ser, embora não sejam como as desejaria.

Compreendi o que queria dizer ao referir-se a mães conscienciosas; por sua vontade, diria meretrizes conscienciosas, mas não lhe convinha ofender- -me, pois, na realidade, naquele caso eu não era uma meretriz, visto ser legalmente casada, exceptuada a validade de anterior casamento.

No entanto, fosse eu o que fosse, não adquirira ainda a extrema dureza comum à profissão; quero dizer, não era uma mãe desnaturada, insensível e indiferente à segurança do meu filho, e tão grande era esse honesto afecto que estava a ponto de, por ele, desistir do meu amigo do banco, o qual desejava tanto que o desposasse que me era a bem dizer impossível recusá-lo.





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