A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 188 / 359

Nos poucos momentos que estes pensamentos levaram a atravessar-me o cérebro vi que o estalajadeiro chamava o meu amigo de parte e lhe segre- dava, não tão baixo, porém, que eu não ouvisse parte do discurso: «Sir; se precisar de...» Não percebi o resto, mas deduzi que se tratava do seguinte: «Sir; se precisar de um pastor, tenho um amigo a pouca distância daqui que poderá servi-lo com a intimidade que desejar,» O meu companheiro respondeu suficientemente alto para eu ouvir: «Muito bem; creio que precisarei.»

Mal chegámos à estalagem dirigiu-me palavras irresistíveis, dizendo que, visto haver tido a boa fortuna de me encontrar e de tudo se proporcionar, apressaria a sua felicidade se me decidisse naquele próprio momento.

- Que quer dizer? - perguntei-lhe, com leve rubor, e acrescentando, como se estivesse muito surpreendida: - O quê, numa estalagem e em plena estrada?! Deus nos valha, como pode falar assim?

- Posso falar assim muito bem, creia - redarguiu-me. - Vim propositadamente para isso, como vou demonstrar-lhe. - E sacou de um grande rolo de papéis.

- Assusta-me! - exclamei. - Que vem a ser tudo isso?

- Não se assuste, minha querida - respondeu, beijando-me e ousando chamar-me «minha querida» pela primeira vez. - Não se assuste; verá de que se trata.

Antes de mais nada, mostrou-me a sentença do seu divórcio da mulher e provas insofismáveis do adultério desta; depois, certificados do pastor e dos curadores da paróquia onde ela vivera provando que estava enterrada e insinuando a maneira como morrera; a cópia da convocação pelo juiz de instrução de um júri para se pronunciar sobre o seu caso e o veredicto Non conipos mentis do mesmo júri. Tudo isso confirmava as suas palavras e me satisfazia, embora, diga-se de passagem, eu não fosse tão escrupulosa como ele imaginava e estivesse disposta a aceitá-lo mesmo sem a papelada.





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