A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 206 / 359

Houve uma coisa, porém, a que não consegui fugir, pois era como que um engodo que me estendiam com frequência. Ia muitas vezes às aldeias vizinhas da cidade tentar a minha sorte e um dia, ao passar por uma casa perto de Stepney, vi, no peitoril de uma janela, dois anéis - um pequeno e de diamantes; o outro, uma simples aliança de ouro -, por certo ali deixa- dos por alguma senhora descuidada, com mais dinheiro que siso, talvez apenas enquanto lavava as mãos.

Passei várias vezes pela janela para tentar certificar-me se estava alguém na sala ou não e, apesar de não ver ninguém, continuei indecisa. Lembrei- -me de bater no vidro, como se quisesse falar com alguém, certa de que, se estivesse gente na sala, viriam à janela e, nesse caso, lhes diria que guardassem os anéis, pois vira dois indivíduos suspeitos a olhá-los. Se bem o pensei, melhor o fiz; bati uma ou duas vezes no vidro e, como não respondessem, empurrei com força o rectângulo de vidro, parti-o quase sem ruído, apoderei-me dos dois anéis e afastei-me sem novidade. O anel de diamantes valia quase três libras e o de ouro cerca de nove xelins.

Faltava-me agora mercado para o produto dos meus roubos, sobretudo para a peça de seda e para a de veludo. Custava-me muito desfazer-me delas por uma bagatela, como acontece, regra geral, aos pobres ladrões in- felizes que, depois de arriscarem a vida por uma coisa de valor, são obrigados a vendê-la por uma tuta e meia. Estava resolvida a não proceder assim, fosse como fosse, a não ser que me visse em grandes apuros. No entanto, não sabia muito bem que fazer e, por fim, decidi procurar a minha velha governanta e reatar relações com ela. Enquanto pudera, mandara-lhe pontualmente as cinco libras anuais para o meu filho, mas acabara por ser obrigada a deixar de o fazer e, por isso, escrevera-lhe uma carta a informá-la de que me encontrava numa situação muito triste, que perdera o meu marido e estava impossibilitada de lhe remeter o dinheiro; rogava-lhe contudo, que o pobre pequeno não sofresse muito como consequência das desventuras da mãe.





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