Perseguiam tão de perto os dois últimos fugitivos que estes tiveram de largar o que levavam e um deles foi até apanhado.
Deixei-me ficar imóvel durante esse tempo todo, até regressarem a arrastar o pobre diabo que tinham apanhado e as coisas que haviam recuperado, muito contentes por terem capturado o ladrão e as mercadorias roubadas. Passaram por mim sem me prestarem atenção, julgando-me apenas ama pessoa que parara a ver o que se passava.
Perguntei uma ou duas vezes o que acontecera, mas ninguém se deu ao trabalho de me responder e eu também não me mostrei muito insistente. depois de passar o cortejo, aproveitei a oportunidade para me virar, apanhar o que se encontrava atrás de mim e afastar-me. Fi-lo com menos perturbação que das vezes anteriores, pois não roubara aquelas coisas, as quais tinham sido roubadas por outrem e colocadas nas minhas mãos, cheguei a casa com o carregamento a salvo e verifiquei que se tratava de ama boa peça de seda preta, lustrosa, e de outra de veludo. Do último tecido eram apenas cerca de onze metros, ou seja, parte de uma peça, mas peça do primeiro era inteira e media quase cinquenta metros. Ao que parecia, tinham saqueado uma loja de fanqueiro - digo saqueado por as mercadorias perdidas, e em meu poder, serem tão valiosas e por terem, além disso, recuperado uma grande quantidade, creio que seis ou sete peças de seda. Não fazia ideia de como haviam conseguido roubar tanto, mas, como me limitara a roubar o ladrão, não tive escrúpulos em ficar com os tecidos e senti-me até muito contente.
Como até ali tivera muita sorte, meti-me em mais aventuras, embora de pequena monta, de que me saí muito bem; no entanto, vivia no medo constante de um percalço e de, por fim, acabar na forca. A impressão que este temor me causava era tão forte que não podia ignorá-la e me impedia de tentar cometimentos que, tudo indicava, seriam fáceis e seguros.
