Visitei-a, portanto, e verifiquei que, embora não tivesse abandonado de todo o antigo comércio, as suas circunstâncias não eram tão prósperas como antes; fora processada por certo cavalheiro a quem tinham roubado a filha, a qual, ao que parecia, ela ajudara a fugir, e só por um triz escapara à forca. As despesas do processo tinham sido grandes e haviam-na deixado muito pobre, a sua casa estava modestamente mobilada e a sua reputação profissional não era tão boa como antes, mas aparara o golpe, como se costuma dizer, e, como era uma mulher cheia de vida e de energia, salvara ainda algum dinheiro, estabelecera-se como penhorista e vivia bem.
Recebeu-me muito delicadamente e, com a simpatia habitual, afirmou-me que não me respeitaria menos por me encontrar nas circunstâncias em que me encontrava. Acrescentou que recomendara que o meu pequeno continuasse a ser muito bem tratado, apesar de eu não poder pagar o com- binado, e que, em virtude de a mulher que o tinha de ser boa criatura, não precisava de me preocupar com ele até poder dar qualquer coisa.
Disse-lhe que não me restava muito dinheiro, mas que tinha algumas coisas que o valeriam, se ela me dissesse como devia proceder. Perguntou- -me o que tinha e mostrei-lhe a fiada de contas de ouro, informando que fora um dos presentes do meu marido; as duas peças de tecido, que disse ter recebido da Irlanda e trazido para a cidade comigo, e o pequeno anel de diamantes. Dos objectos de prata e das colheres conseguira eu própria desfazer-me, e quanto ao jogo de cama, ofereceu-se para ficar ela própria com ele, julgando que era meu. Disse-me que se tornara penhorista e que se encarregaria de me vender essas coisas, como se tivessem sido empenha- das na sua loja, e mandou chamar os agentes apropriados, que lhas compraram sem escrúpulos, visto estarem nas suas mãos, e as pagaram por bom preço.
