A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 223 / 359

Entregaram o pobre rapaz à fúria da rua, crueldade que não ouso descrever, mas que, todavia, os infelizes preferem a ser enviados para Newgate, onde frequentemente ficam tempos esquecidos, quase até morrerem de fome, quando não são enforcados ou, na melhor das hipóteses, degredados.

Escapei por tão pouco que, com medo, deixei os relógios de ouro em paz durante muito tempo. Vários foram os factos que, nesta aventura, contribuíram para que escapasse, salientando-se entre eles o de a mulher cujo relógio eu puxara ser idiota - isto é, não ter percebido a natureza da tentativa, o que estava em contradição com a maneira segura como prendera o relógio, para não lho tirarem. Foi tão grande o susto que apanhou que não pensou com lógica e, ao sentir o puxão, gritou e correu para a frente, alarmando as pessoas em seu redor, mas referindo-se à presença de um ladrão e ao seu relógio somente passados quase dois minutos, o que chegou e sobrou para mim. Visto ter gritado atrás dela, como disse, e estacado enquanto ela avançava, havia pelo menos sete ou oito pessoas entre ela e mim, com a multidão ainda a deslocar-se, e, como o meu grito de «Ladrão!» foi anterior ou, pelo menos, simultâneo ao seu, tanto podiam suspeitar dela como de mim e a confusão do público foi grande. Se, porém, não lhe houvesse faltado a necessária presença de espírito e, em vez de gritar como gritara, se tivesse voltado imediatamente e agarrado a pessoa que se encontrava atrás dela, ter-me-ia infalivelmente apanhado.

Este conselho não será dos mais leais para a fraternidade dos ladrões, mas é, com certeza, uma indicação útil acerca do modo de proceder de um carteirista e quem o seguir poderá estar tão certo de apanhar o ladrão como, em caso contrário, de o deixar escapar.





Os capítulos deste livro