Escapei por tão pouco que, com medo, deixei os relógios de ouro em paz durante muito tempo. Vários foram os factos que, nesta aventura, contribuíram para que escapasse, salientando-se entre eles o de a mulher cujo relógio eu puxara ser idiota - isto é, não ter percebido a natureza da tentativa, o que estava em contradição com a maneira segura como prendera o relógio, para não lho tirarem. Foi tão grande o susto que apanhou que não pensou com lógica e, ao sentir o puxão, gritou e correu para a frente, alarmando as pessoas em seu redor, mas referindo-se à presença de um ladrão e ao seu relógio somente passados quase dois minutos, o que chegou e sobrou para mim. Visto ter gritado atrás dela, como disse, e estacado enquanto ela avançava, havia pelo menos sete ou oito pessoas entre ela e mim, com a multidão ainda a deslocar-se, e, como o meu grito de «Ladrão!» foi anterior ou, pelo menos, simultâneo ao seu, tanto podiam suspeitar dela como de mim e a confusão do público foi grande. Se, porém, não lhe houvesse faltado a necessária presença de espírito e, em vez de gritar como gritara, se tivesse voltado imediatamente e agarrado a pessoa que se encontrava atrás dela, ter-me-ia infalivelmente apanhado.
Este conselho não será dos mais leais para a fraternidade dos ladrões, mas é, com certeza, uma indicação útil acerca do modo de proceder de um carteirista e quem o seguir poderá estar tão certo de apanhar o ladrão como, em caso contrário, de o deixar escapar.