A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 247 / 359

Teve então uma longa conversa com a minha governanta, mostrando-se interessado em saber como ela tivera conhecimento de todo aquele assunto, e a velha inventou uma longa história: soubera tudo por uma pessoa a quem eu contara o caso, a fim de me ajudar a dispor dos objectos; esta confidente minha levara-lhe os mesmos, visto a sua profissão ser a de penhorista, e ela, ao ter conhecimento da doença e do roubo de que ele fora vítima, deduzira o resto. Com os objectos em seu poder, resolvera visitá-lo e falar-lhe, como lhe falara. Repetiu-lhe que não sairia nada da sua boca e que, apesar de conhecer muito bem a mulher em questão, não lhe contara o que se passava; isto é, quem ele era (o que era uma refinada mentira. diga-se de passagem, embora ele nada perdesse com isso, pois nunca abri a minha boca para ninguém a esse respeito).

Quanto a mim, andava com vontade de o voltar a ver e lamentava te; recusado o encontro por ele proposto. Estava persuadida de que se o visse e lhe dissesse que sabia quem ele era, tiraria proveito disso e talvez obtivesse alguma coisa para me manter; ainda que essa vida fosse cheia de pecado não era tão perigosa como a que levava. Mas, com o tempo, esses pensa- mentos passaram e desisti, de momento, de o voltar a ver. A minha governanta, porém, via-o com muita frequência e ele tratava-a sempre com grande delicadeza e dava-lhe quase sempre qualquer coisa. Uma vez mostrou-se até muito alegre, como se tivesse bebido mais que a conta, insistiu muito com ela para voltar a ver a mulher que, como dizia, o enfeitiçara tanto naquela noite, e ela, que desde o princípio achara que eu não o devia ter repudiado, respondeu-lhe que, visto estar tão ansioso, se sentia tentada a arranjar um encontro, se conseguisse convencer-me.





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