Contou-me, em seguida, a conversa e, em resumo, não teve dificuldade em convencer-me, pois eu própria já estava arrependida de não ter acedido da primeira vez. Preparei-me, pois, para o receber. Vesti-me da maneira que me pareceu mais vantajosa possível e, pela primeira vez, usei um pouco de artifício - digo pela primeira vez porque nunca descera a pintar-me, pois sempre tivera vaidade suficiente para crer que não precisava de tais ardis.
O cavalheiro chegou à hora combinada e, como a minha governanta desconfiara, era evidente que bebera de mais, embora estivesse longe de se encontrar ébrio. Mostrou-se contentíssimo por me ver, falou-me muito do que se passara e eu pedi-lhe repetidamente perdão do papel que representara nesse caso e afirmei-lhe que não albergava semelhantes desígnios quando o encontrara, que só o acompanhara por o considerar um cavalheiro muito delicado e por várias vezes me ter assegurado que não me ofenderia.
Defendeu-se com o vinho que bebera, garantiu-me que mal soubera o que fizera e que, se não fosse isso, jamais ousaria tomar comigo as liberdades que tomara; jurou-me que jamais tocara noutra mulher além da esposa, desde que casara, e que, por isso, o sucedido fora uma grande surpresa para si; agradeceu-me a maneira agradável como o tratara, e tantas coisas me disse no mesmo género que, por fim, levado pelas próprias palavras, percebi que estava quase disposto a fazer o mesmo. Mas travei-lhe os ímpetos. Afirmei-lhe jamais ter consentido que homem algum me tocasse desde que meu marido morrera, ia para oito anos, e ele redarguiu-me que acreditava e que a outra senhora já lho dissera.