A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 25 / 359

Foram muitas as coisas bonitas deste género que me disse e de que eu, pobre tola, não percebi a intenção, convencida de que não existia outra espécie de amor além daquele que levava ao casamento. Mesmo que a ele se tivesse referido, eu não teria coragem nem força de vontade para dizer não; mas não chegáramos ainda a esse extremo.

Conversávamos havia pouco tempo quando, beijando-me ao ponto de não me deixar respirar, me atirou novamente para cima da cama. Desta vez, como estávamos ambos mais excitados, foi mais longe do que a decência me consente mencionar e eu não teria tido alento para o repelir mesmo que me fizesse muito mais do que fez.

Manda a verdade que diga, contudo, que, embora tomasse todas essas liberdades comigo, não tentou aquela a que se chama o último favor, transformando esse sacrifício numa justificação para todos os atrevimentos posteriores. Terminados os arroubos, demorou-se pouco tempo, mas meteu-me na mão um punhado de ouro e deixou-me com mil protestos de paixão e jurando amar-me mais que a todas as mulheres do mundo.

Não é de admirar que eu começasse, então, a pensar, mas, ai de mim!, fi-lo levianamente, ao contrário da minha virtude, que era reduzida. Às vezes reflectia nas intenções do meu jovem senhor, mas o pensamento do ouro e das suas belas palavras impunha-se a todos os outros e o facto de tencionar ou não casar comigo parecia-me de pouca importância. Também não me ocorreu, sequer, a necessidade de qualquer capitulação da minha parte, até que ele me apresentou uma proposta formal, como mais adiante vereis.

Assim contribuí estouvadamente para a minha desgraça, sem a mínima preocupação, e sou um exemplo para todas as jovens cuja vaidade é maior que a sua virtude. Nunca houve nada tão estúpido de ambos os lados.





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