A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 252 / 359

Assim que me vi com o embrulho nas mãos e a criada desapareceu ao longe, encaminhei-me para a cervejaria onde se encontrava a mulher do carregador. Se a encontrasse, diria que ia entregar-lhe o volume e chamá-la, como se não pudesse demorar-me mais tempo; mas, como não a encontrei, segui para diante e virei para Charterhouse Lane, percorri Charter-house Yard, Long Lane, Bartholomew Close, Little Britain, atravessei o Bluecoat Hospital e cheguei à Newgate Street.

Para não me reconhecerem, tirei o avental azul e embrulhei nele a trouxa, cujo invólucro de algodão estampado dava muito nas vistas, meti-lhe também dentro o chapéu de palha e pus tudo à cabeça. Foi uma sorte ter essa lembrança, pois, ao atravessar o Bluecoat Hospital, encontrei nem mais nem menos que a criada que me confiara o volume. Parece que ia com a ama, que fora buscar, para a diligência de Barnet.

Vi que estava com pressa e, claro, não pensei em detê-la; ela seguiu o seu caminho e eu cheguei com a trouxa a salvo a casa da minha governanta. Não continha dinheiro, nem prata, nem jóias, mas um excelente conjunto de damasco indiano, um vestido e uma combinação, um toucado e folhas de boa renda da Flandres, algumas roupas brancas e outras coisas cujo valor conhecia muito bem.

A invenção deste género de roubo não me pertencia; fora-me ensinado por alguém que o praticara com muito êxito e agradava sobremaneira à minha governanta. Pu-lo em prática várias vezes, embora nunca nos mesmos lugares ou perto deles, e, assim, experimentei a seguir em White Chapel, mesmo à esquina de Petticoat Lane, onde param as diligências para Stratford, Bow e outras terras da mesma região, depois na Flying Horse, à saída de Bishopsgate, onde paravam então as diligências de Cheston, e tive sempre a sorte de apanhar alguma coisa.





Os capítulos deste livro