De outra vez postei-me junto de um armazém fechado, no cais, onde atracam os barcos costeiros vindos de Newcastle-upon-Tyne, Sunderland e outros lugares. A alturas tantas chegou um rapaz com uma carta, para levantar um cesto e uma caixa que tinham vindo de Newcastle-upon-Tyne. Perguntei-lhe se sabia os sinais dos volumes e ele mostrou-me a carta graças à qual os poderia levantar e que enumeravam o conteúdo: tecidos na caixa e vidraria no cesto. Li-a com atenção, tendo o cuidado de fixar as marcas, o nome da pessoa que mandava as mercadorias e o daquela a quem eram destinadas, e disse ao rapaz que voltasse de manhã, pois o guarda do armazém já não viria naquela noite.
Depois pedi o material necessário num botequim e escrevi uma carta em nome de Mr. John Richardson, de Newcastle, para o seu querido primo Jemmy Cole, de Londres, informando-o de que lhe enviava por tal barco (fixara todos os pormenores, até o nome do barco), numa caixa, tantas peças de pano cru, tantas varas de linho holandês, etc., e, num cesto, cristais da fábrica de vidros de Mr. Henzill. A caixa tinha as marcas J. C. nº1 e o cesto um rótulo com o endereço.
Cerca de uma hora depois voltei ao armazém, encontrei o guarda e recebi as mercadorias sem qualquer dificuldade. Só os tecidos valiam cerca de vinte e duas libras.
Podia relatar inúmeras outras aventuras deste género, que o engenho criava dia a dia e que eu punha em prática com a maior perícia e sempre com êxito.
Por fim (quantas vezes vai o cântaro à fonte sem se partir?) tive algumas contrariedades que, embora não me afectassem fatalmente, me tornaram conhecida, o que era a pior coisa que me podia acontecer, com excepção de ser considerada culpada de qualquer delito.
Uma vez vesti-me de viúva sem qualquer desígnio especial, apenas para ver o que surgia, como tantas vezes fazia.
