A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 276 / 359
- Por favor, senhor, receba o dinheiro e jogue por sua conta; creio ter-lhe dado sorte.
Por sua vontade, continuaria a jogar, mas fazia-se tarde e pedi que me desculpasse por isso. Quando lhe entreguei o dinheiro, disse-lhe esperar que me deixasse agora contá-lo, para saber quanto ganhara e que tal fora a minha sorte. Consentiu que contasse e verifiquei que eram sessenta e três guinéus.
- Se não fosse o último lançamento infeliz, teria ganho cem guinéus para o senhor - comentei.
Entreguei-lhe o dinheiro todo, mas não o quis aceitar enquanto não lhe tivesse tocado com as minhas mãos e tirado algum para mim; que me servisse, disse-me. Recusei, afirmando que não tiraria nada; se fosse sua intenção dar-me algum, que o fizesse ele.
Os restantes cavalheiros, ao ouvirem-nos, gritaram: «Dê-lhe todo!» Mas recusei terminantemente e um deles sugeriu: «Diabos te levem, Jack, reparte-o ao meio com ela! Sabes muito bem que é sempre conveniente estar em termos de igualdade com as senhoras.» Deu-me, pois, metade dos ganhos e vim-me embora com trinta guinéus, não contando com os quarenta e três que roubara antes, acção de que depois me arrependi por ele ter sido tão generoso.
Regressei, pois, a casa com setenta e três guinéus e informei a minha governanta da minha sorte ao jogo. Aconselhou-me, no entanto, a não me arriscar de novo, e eu segui o seu conselho; sabia tão bem como ela que, se adquirisse o vício do jogo, poderia perder depressa o que ganhara e tudo o mais que tinha.
A fortuna sorrira-me tanto e eram tão grandes os meus progressos - e os dela também, pois dava-lhe sempre uma parte do que arranjava - que a velha mulher começou a falar na conveniência de me retirar enquanto estávamos bem e de nos darmos por satisfeitas com o que possuíamos.