A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 283 / 359

As meninas haviam-se todas casado ou partido para Londres, o velho fidalgo e a velha fidalga, meus antigos benfeitores, haviam morrido e - essa foi a notícia que mais me perturbou - o jovem fidalgo que fora o meu primeiro amante e, depois, meu cunhado falecera também. Deixara dois filhos, já homens feitos, mas esses tinham-se mudado igualmente para Londres.

Mandei embora o velho camponês e fiquei em Colchester três ou quatro dias, incógnita, e depois arranjei lugar numa carroça de carga, pois não queria arriscar-me a ser vista nas diligências de Harwich. Eram escusadas, porém, tantas cautelas, pois em Harwich só a estalajadeira poderia reconhecer-me, e nem mesmo essa, talvez, dado que me vira uma única vez, quando estava cheia de pressa, à luz de velas.

Regressei a Londres e, embora a última aventura tivesse rendido bastante, fiquei sem vontade de me meter em mais passeatas pela província; não as teria dado mesmo que continuasse naquela vida até ao resto dos meus dias. Contei à minha governanta a história da minha viagem e ela gostou muito da parte respeitante a Harwich. Ao discorrermos acerca do assunto, observou-me que, sendo uma ladra uma criatura que está sempre atenta ao proveito a tirar dos erros dos outros, seria impossível não lhe surgirem bastas oportunidades, sobretudo se soubesse observar e fosse laboriosa. Pensava portanto que, a uma pessoa tão viva e perspicaz como eu, pouco ou nada seria susceptível de escapar, fosse onde fosse que me encontrasse.

Por outro lado, todas as ramificações da minha história, quando devidamente consideradas, podem ser úteis às pessoas honestas, permitindo-lhes que se acautelem contra surpresas semelhantes e ensinando-as a conserva- rem os olhos bem abertos quando têm de lidar com desconhecidos, visto que não raro lhes estendem armadilhas no caminho.





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