No entanto, se me puder arranjar um animal que seja o mais barato possível, não me esquecerei de lhe dar qualquer coisa pelo incómodo.
- É uma proposta honesta, senhora - volveu-me o camponês. «Não a acharias tão honesta se soubesses tudo...», pensei para comigo. - Bem, senhora, tenho um cavalo que aguentará carga dupla e não me importo de ir eu próprio consigo - ofereceu-se.
- Sim? Oh, é um bom homem! Se o fizer, ficar-lhe-ei muito agradecida e pagar-lhe-ei dentro da razão.
-Também não pedirei nada fora da razão, senhora - afirmou-me. - Se quiser que a leve a Colchester, terá de pagar cinco xelins por mim e pelo meu cavalo, pois ser-me-á difícil regressar esta noite.
Em resumo, aluguei o homem e o cavalo, mas, quando chegámos a uma cidade que ficava no caminho (não me lembro o nome, mas fica sobranceira a um rio), fingi-me muito doente, declarei que não podia ir mais longe naquela noite e disse-lhe que, se pernoitasse ali comigo, visto ser uma forasteira e não conhecer ninguém, lhe ficaria muito agradecida e lhe pagaria de todo o coração por ele e pelo cavalo.
Procedi assim por saber que os cavalheiros holandeses e os criados passariam naquele dia pela estrada, quer nas diligências, quer na mala-posta, e recear que o criado bêbado ou qualquer outra pessoa que me tivesse visto em Harwich me visse de novo e me reconhecesse. Assim, se parasse um dia, passariam todos à frente.
Passámos ali a noite e, como na manhã seguinte não partimos muito cedo, eram quase dez horas quando cheguei a Colchester. Não foi com pequeno prazer que revi a cidade onde passara dias tão agradáveis! Procurei obter informações dos velhos amigos que em tempos lá tivera, mas pouco consegui saber, pois ou tinham morrido ou ido para outros lados.