A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 312 / 359

Sentou-se a uma mesa na qual apoiou o cotovelo, encostou a cabeça à mão e fixou o solo, com expressão imbecil. Pelo meu lado, chorava tão desesperadamente que durante muito tempo também não consegui falar. Por fim, aliviada pelo pranto vertido, repeti as mesmas palavras:

- Meu querido, não me conheces?

Respondeu que sim, apenas, e remeteu-se de novo a prolongado silêncio. Passado algum tempo, levantou os olhos para mim e perguntou-me:

- Como podes ser tão cruel?

- Por que me chamas cruel? - indaguei, sem compreender o que queria dizer.- Em que fui cruel contigo?

- Não é um insulto vires ter comigo num lugar destes? Não te roubei... pelo menos não te roubei na estrada.

Compreendi, então, que ignorava as tristes circunstâncias em que me encontrava e pensava que, ao saber da sua estada ali, o visitava para lhe verberar o seu abandono. Mas desejava dizer-lhe tantas coisas que nem pensei em me sentir afrontada e lhe expliquei, em poucas palavras, que, longe de pretender insultá-lo, viera para nos lamentarmos mutuamente; compreenderia sem dificuldade não serem esses os meus desígnios quando lhe contasse que a minha situação era pior que a sua, em muitos sentidos. Olhou-me, um pouco preocupado com a minha afirmação de que me encontrava em piores circunstâncias que ele, mas acabou por sorrir tristemente e replicar:

- Como é isso possível? Como podes afirmar que a tua situação é pior que a minha vendo-me acorrentado em Newgate e sabendo que dois dos meus companheiros foram já executados?

- Oh, meu querido, árdua seria a tarefa se tivesse de te contar, e tu de ouvir, a minha desgraçada história! Mas, se estás disposto a ouvi-la, depressa concordarás que a minha situação é, deveras; pior que a tua.

- Como é isso possível se espero ser condenado à morte numa das próximas sessões do tribunal?

- Acharás muito possível quando te contar que fui julgada há três sessões e condenada à morte.





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