Nó entanto, parece que estavam resolvidos a não os soltar, convencidos de que, com o tempo, surgiriam outras testemunhas. Com esse fim publicaram, segundo me constou, editais anunciando que tinham sido capturados tais delinquentes e pedindo a quem tivesse sido roubado por eles que comparecesse na prisão, para se identificar.
Aproveitei esse ensejo para satisfazer a minha curiosidade, pretextando que fora roubada na diligência de Dunstable e que queria ver os dois salteadores. Quando entrei no pátio, embioquei-me de maneira que ele pouco visse do meu rosto e, portanto, não soubesse quem eu era. Quando voltei, disse a quem quis ouvir que os conhecia muito bem.
Constou imediatamente em toda a prisão que a Moll Flanders testemunharia contra um dos salteadores e que lhe seria perdoada, assim, a sentença de deportação.
Os presos ouviram o boato e imediatamente o meu marido mostrou desejos de ver essa Mrs. Flanders que tão bem o conhecia e deporia contra ele, e consentiram-me que o visitasse de novo. Vesti-me o melhor que as roupas que tinha na prisão me permitiam e dirigi-me ao pátio, mas com o rosto oculto por um capuz. Ao princípio pouco me disse, limitando-se a perguntar-me se o conhecia. Respondi-lhe que sim, que o conhecia muito bem, mas tive o cuidado de disfarçar também a voz, para que não fizesse a mínima ideia de quem eu era. Perguntou-me em seguida onde o vira e respondi-lhe que entre Dunstable e Brickhill, mas voltei-me para o carcereiro e perguntei-lhe se não podia falar a sós com o preso. Respondeu-me que sim, que falasse o tempo que quisesse, e retirou-se delicadamente.
Assim que nos deixou, fechei a porta, tirei o capuz e as lágrimas saltaram-me dos olhos .
- Meu querido - perguntei-lhe -, não me conheces?
Empalideceu, olhou-me como se tivesse sido fulminado e, incapaz de dominar a surpresa, murmurou apenas:
- Permite-me que me sente.