Não é o meu caso pior que o teu?
Calou-se, transtornado de espanto, e, passado um bocado, levantou-se e murmurou:
- Infeliz casal! Como é possível?
- Vamos, meu querido - respondi-lhe, segurando-lhe na mão -, sentemo-nos e comparemos as nossas desgraças. Estou presa nesta casa e em muito piores circunstâncias que tu, e convencer-te-ás de que não vim insultar-te quando ouvires o que tenho a dizer-te.
Sentámo-nos juntos e contei-lhe as passagens da minha história que me pareceram convenientes, declarando por fim que ficara reduzida a uma grande pobreza e travara conhecimento com pessoas que me haviam leva- do a aliviar os meus males de uma maneira que me era absolutamente desconhecida. Essas mesmas pessoas tinham tentado roubar a casa de um comerciante e eu fora apanhada por me encontrar à porta, pois uma cria- da puxara-me para dentro. Não arrombara nenhuma fechadura nem tirara nada, mas mesmo assim fora considerada culpada e condenada à morte. Os juízes, compadecidos da minha sorte, haviam obtido autorização para suspenderem a sentença se eu aceitasse ser deportada.
Expliquei-lhe que a minha situação se agravara por me terem tomado, na prisão, por uma tal Moll Flanders, ladra famosa e sempre bem sucedida de que todos tinham ouvido falar, mas que ninguém vira. Ele sabia muito bem, no entanto, não ser esse o meu nome. Atribuí tudo à minha má fortuna, pois assim fora considerada delinquente antiga, embora aquela fosse a primeira coisa em que me apanhavam. Contei-lhe inúmeros pormenores das coisas que me tinham acontecido desde que me deixara e não esqueci de referir que o vira em Brickhill, que o tinham perseguido furiosamente e que, em virtude de ter dito que o conhecia e de o identificar como um tal Mr....
