A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 32 / 359

Este facto, apesar de nele pensar muitas vezes, como disse, não me perturbava nada, pois o seu afecto por mim não parecia arrefecer, nem a sua generosidade diminuir, embora me recomendasse que não gastasse um centavo do que me dava em roupas ou em qualquer extraordinário, para não causar invejas na família. Toda a gente sabia que não podia obter essas coisas pelos meios vulgares e desconfiariam imediatamente de qualquer amizade íntima.

A verdade é que me encontrava numa grande dificuldade e não sabia que fazer, pois o irmão mais novo não só me perseguia incansavelmente, como também não se importava ~ada que o vissem. Entrava no quarto da mãe ou das irmãs, sentava-se e dizia-lhes maravilhas a meu respeito, ou dizia-mas a mim própria, na sua frente. O caso tornou-se tão evidente que em casa toda a gente falava dele, a mãe censurava-o e todos passaram a tratar-me de maneira diferente. A mãe chegara, até, a dizer-me certas frases, como se tencionasse expulsar-me da família, ou seja, em bom inglês, pôr-me fora de casa. Tive a certeza de que o irmão mais velho estava ao corrente de tudo, embora não pensasse, como afinal ninguém pensava ainda, que o mais novo me propusera casamento. Compreendi sem dificuldade que as coisas podiam ir longe de mais e que, portanto, se tornara absolutamente necessário que lhe falasse no assunto, ou que me falasse ele. Não sabia, porém, se devia ser eu a abordar o caso ou se me convinha aguardar que fosse ele a fazê-lo.

Após séria reflexão - pois começava, finalmente, a pensar a sério -, resolvi ser a primeira a falar, e não tardou a oferecer-se-me oportunidade de pôr em prática a minha resolução. No dia seguinte o irmão mais novo foi a Londres tratar de qualquer assunto, a família saiu em visita a amigos, como acontecera tantas vezes, e, como tantas vezes acontecera também, ele resolveu passar uma hora ou duas com Mrs.





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