Betty.
Passado um bocado compreendeu que se operara em mim uma modificação, que não me mostrava tão franca e agradável como era costume e, sobretudo, que estivera a chorar. Percebeu-o, como disse, e perguntou-me em termos muito ternos o que tinha e se me preocupava alguma coisa. Se pudesse, de boa vontade me teria calado, mas não podia ocultar-lhe mais tempo a verdade e, depois de o deixar insistir várias vezes em que desabafasse e lhe dissesse o que, afinal, ansiava por dizer, confessei que, de facto, alguma coisa me preocupava, alguma coisa tão grave que não podia ocultar-lhe, mas que, todavia, não sabia como contar-lhe - uma coisa, em suma, que não só me surpreendia, como também me intrigava muito e não saberia resolver sem o seu auxílio. Aconselhou-me, com grande ternura, a dizer-lhe o que se passava, sem me atormentar, pois proteger-me-ia contra tudo e contra todos.
Comecei por lhe manifestar o receio de que as senhoras tivessem qual- quer secreta informação do que entre nós se passava, pois era fácil perceber quanto a sua atitude para comigo se modificara, ao ponto de, agora, me apontarem frequentemente defeitos e se zangarem comigo, embora eu não lhes desse o mínimo motivo para tal. Além disso, já não dormia com a irmã mais velha, como dantes, mas sozinha ou com uma das criadas, e ouvira-as muitas vezes criticarem-me injustamente. A confirmar as minhas suspeitas, uma das criadas contara-me ter ouvido dizer que me iam expulsar de casa e que não era conveniente para a família que continuasse a viver lá.
Sorriu ao ouvir-me falar assim, e então perguntei-lhe como podia aceitar as minhas palavras de ânimo tão leve, sabendo, como sabia, que, se descobrissem o que se passava, eu estaria perdida para sempre e até ele pode- ria achar-se prejudicado, embora não desgraçado como eu.
