A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 35 / 359

- De certo modo, sim - concordei. - Mas não é esse o principal motivo da minha preocupação, embora me tenha também inquietado. - Que mais se passa então?

Rompi em pranto, ao ouvir a sua pergunta, e não fui capaz de dizer mais nada. Empregou todos os esforços para me acalmar, mas, por fim, começou a insistir em que lhe contasse o que se passava e eu acabei por lhe dizer que achava ser meu dever ser franca, pois ele tinha, afinal, o direito de saber. Além disso, precisava dos seus conselhos, pois sentia-me tão perplexa que não sabia que atitude tomar. Contei-lhe, então, tudo e confessei-lhe quanto achava imprudente o procedimento do irmão ao tornar públicos os seus sentimentos. Se tivesse guardado segredo, como devia em semelhante situação, eu podia tê-lo rejeitado definitivamente, sem ter de apresentar desculpas ou justificações, e com o tempo deixaria de me importunar; mas o jovem era vaidoso e, convencido de que não o rejeitaria, tomara a liberdade de anunciar a todos a sua decisão de me desposar.

Expliquei-lhe com quanta firmeza resistira, apesar de os propósitos do seu jovem irmão serem honrosos e sinceros, e acrescentei:

- Mas o meu caso será duplamente difícil; se agora me querem mal por ele me desejar para esposa, pior me quererão quando souberem que o rejeitei. Não tardarão a pensar que deve haver história e a desconfiar de que já sou casada com outro, pois só assim se explicaria que recusasse um casamento tão acima da minha condição.

Deveras surpreendido com as minhas palavras, confessou que, de facto, a minha situação era crítica e que não sabia que decisão devia aconselhar-me; mas pensaria no caso e no nosso próximo encontro informar-me-ia das conclusões a que chegasse. Entretanto, pedia-me que não desse o meu consentimento ao irmão nem o recusasse definitivamente, mas que me limitasse a conservá-lo na indecisão durante algum tempo.





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