A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 1: Prefácio Pág. 4 / 359

Que poderá corresponder mais exactamente à regra exposta, ao ponto de recomendar, até, o relato de coisas que têm contra elas tantas e tão justas objecções, principalmente de exemplo, de má companhia, de linguagem obscena e quejandos?

É a partir destes princípios que se recomenda este livro ao leitor, como uma obra da qual se podem colher ensinamentos e tirar ilações justas e religiosas, como uma obra graças à qual o leitor aprenderá qualquer coisa, se assim lhe aprouver.

Todas as façanhas desta dama famosa, nas suas depredações do género humano, são apresentadas como outras tantas advertências às pessoas honestas para contra elas se precaverem, demonstrando-lhes os métodos pelos quais os inocentes são seduzidos, despojados e roubados e, por consequência, como de- vem defender-se. O roubo por ela praticado numa criancinha inocente, que a vaidade da mãe vestira requintadamente para ir para a escola de dança, é uma boa advertência para tais pessoas, assim como o roubo do relógio de ouro à jovem, no Park.

O roubo do embrulho à moça desatinada, nas carruagens da St. John Street; o saque feito no incêndio, e de novo em Harwich, são excelentes avisos para termos presentes em acontecimentos inesperados de toda a espécie.

O afinco com que, por fim, se entregou a uma vida sóbria e a uma conduta laboriosa na Virgínia, com o seu marido deportado, é fértil de ensinamentos para todos os desventurados obrigados a procurar restabelecer a 'vida no estrangeiro, quer pelo infortúnio da deportação, quer por outro qualquer revés. Demonstra-lhes que a diligência e o trabalho têm o prémio devido, até nas mais remotas partes do mundo, e que nenhum caso pode ser tão degradante, tão desprezível ou tão vazio de perspectivas que um labor incansável não ajude a vencer e, com o tempo, não devolva ao mundo o ser mais baixo e não dê à sua vida novos horizontes.





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