A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 63 / 359

Pois bem, finalmente encontrei essa criatura anfíbia, esse ser terra-água chamado fidalgo-comerciante, e, como castigo do meu desatino, fui apanhada na própria armadilha que, por assim dizer, estendi para mim própria. E digo estendi para mim própria porque, confesso, não fui iludida, mas a mim mesma me traí.

Tratava-se também de um fanqueiro, mas de outro, pois o irmão da minha companheira, quando chegou a altura de definir posições, queria manceba e não esposa, e eu mantive-me fiel ao conceito de que, quando tem dinheiro para a si mesma se manter, uma mulher não deve consentir que a mantenham como amante.

Assim, o meu orgulho, que não os meus princípios, e o meu dinheiro, que não a minha virtude, conservaram-me honesta. Contudo, provou-se que teria sido muito melhor se deixasse a minha amiga vender-me ao ir- mão, em vez de eu própria me vender, como me vendi, a um negociante que era, simultaneamente, libertino, cavalheiro, lojista e pedinte.

Mas fui impelida (pela minha inclinação para cavalheiros) a arruinar-me da maneira mais estúpida possível, pois o meu marido, ao deitar a mão teve a sorte de entrar no Mint: em vez disso, foi parar a uma cadeia de devedores, onde lhe intentaram uma acção tão grave que não permitia fiança, pelo que me mandou chamar.

Não me surpreendi, pois previra havia algum tempo já o descalabro inevitável e começara a pôr de parte para mim o que pudera, e que não era muito. Mas, ao chamar-me, o meu marido portou-se melhor do que eu esperava e confessou-me francamente que fora um idiota em deixar-se surpreender, pois podia tê-lo evitado. Agora receava não poder suportar o que o esperava e, portanto, queria que fosse para casa e, de noite, retirasse e colocasse a bom recato todas as coisas de valor.





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