A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 92 / 359

Embora tal não se verificasse imediata- mente, a verdade é que, graças não sei a que má sorte, tudo começou a correr-nos mal e, pior ainda, o meu marido transformou-se, tornou-se intratável, ciumento e grosseiro, e eu impacientei-me tanto com o seu comportamento quanto ele era injusto e pouco razoável. As coisas chegaram a tal ponto, o nosso desentendimento era tão grande, que lhe exigi o cumprimento de uma promessa que de bom grado me fizera quando consentira em partir com ele de Inglaterra, ou seja que, se não me desse bem na Virgínia ou não gostasse de lá viver, regressaria a Inglaterra quando me apetecesse, avisando-o com um ano de antecedência para resolver os seus assuntos.

Exigi-lhe, pois, o cumprimento de tal promessa e, confesso, não o fiz em termos muito delicados; aleguei que me tratava mal, que estava longe dos meus amigos e não tinha ninguém que me defendesse, que se mostrava ciumento sem motivo, pois o meu comportamento era irrepreensível, e que se regressasse a Inglaterra não teria ensejo de proceder assim.

Insisti tão peremptoriamente que o coloquei entre a espada e a pare- de, quer dizer, numa, situação em que teria de cumprir a sua palavra ou quebrá-la. Usou de todos os meios de persuasão para me fazer mudar de ideias, recorrendo até à mãe e a outros intermediários para me convencerem; mas a origem do meu desejo residia no fundo do meu coração, que o repudiara como marido, e por isso todos os seus esforços foram baldados. Não podia pensar, sequer, em deitar-me com ele e recorria a mil pretextos de doença e indisposição para evitar que me tocasse, pois não temia mais do que conceber novo filho seu, o que impediria, ou pelo menos retardaria, a minha ida para Inglaterra.

Por fim irritei-o tanto que tomou uma decisão impetuosa e fatal; em resumo, eu não iria para Inglaterra.





Os capítulos deste livro